Morava perto do
trabalho. Almoçaria em casa na segunda vazia. Mais: derrubaria a
marmita do almoço de domingo-pais. O transporte na cidade açoita,
mas ele vencia pagando aluguel caro. Caminhou dez minutos, elevador,
porta, cozinha. Esquentou a lasanha e a carne no micro-ondas e ligou
a tevê - não gostava de comer sozinho. Colocou no canal de filmes
para afagar um pequeno orgulho: sempre descobria o final do filme.
Roteiros são tão previsíveis como a vida, se empinava. Enquanto o
molho de tomate quente escorregava pelo degraus da massa, uma mulher
paria. A mãe chorava e quase morria, segundo os médicos. Enquanto
isso o pai (irmão? Não, tinha certeza que era o pai) fugia da
polícia. Mastigava a carne – deliciosa – e o pai tomava três
tiros em frente a parede branca, fazendo arte com espirros de sangue.
O filho nasceu molhadinho de vermelho quando ele garfou o último
pedaço de lasanha. Limpou o prato, jogou na pia, jorrou água pra
não grudar. Na volta lavava. Suspirou no sofá. A mãe morreu mesmo.
O homem não era o pai. Errara. O filme tinha aqueles roteiros que
entrelaçam distâncias, como em Babel. Subiram os créditos. A
preguiça coçou, mas decidido matou a tevê. Disparou um ar pesado.
Porta, elevador, dez minutos, trabalho.
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