terça-feira, 6 de setembro de 2011

Picanha na brasa


A picanha assava na churrasqueira. 


Roberto sorria salivas; Soraia defendia os alfaces, se amargava com os maus tratos animais


Ninguém lembrava do salário murcho do Márcio, que tinha suas horas extras ignoradas no açougue. Ele só queria um telefone novo, igualzinho ao do Fábio, motorista do caminhão do frigorífico, que mais exibia que falava enquanto as carnes desabavam nos ombros dos outros. 


As carnes, por suas próprias patas, não vinham. Eram de longe, lá do Mato Grosso, lá onde Tarso tossia enquanto os bois marchavam pra morte. "Tadinhos: mas melhor eles do que eu", matutava. Ali no abatedouro abotoava-se num feliz vazio: era vigia, não era peão como seu pai, que tocava a boiada e queimava mato para aumentar pasto. 


Sobre o cavalo, o pai ruminava o fim de tarde. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário